domingo, 5 de julho de 2015

Artigo sobre protestos e inflação

Inferências sobre a expansão da oferta monetária e suas implicações sobre protestos.  
  
  
Sr. D1 
Ciências Econômicas  
Universidade Federal da Cidade dos Sinos  
  
Resumo  
  
Este artigo trata das implicações econômicas de variações propositais por parte do governo na oferta monetária e se expansões monetárias podem oprimir movimentos de insatisfação contra o estado e como isso é evitado se o banco central for independente. Segundo preceitos básicos da escola austríaca de economia e uma pequena complementação  keynesiana será exposto os conceitos de ação, tempo e conhecimento e a relação da paz outorgada, ou não, com o uso da moeda.  
  
  
Palavras-chave: Oferta monetária. Paz. Liberdade.   
  
  
Abstract 

This article discusses the economic implications of deliberate variations from the government in the money supply and monetary expansion can be overwhelming dissatisfaction movements against the state. According to basic principles of the Austrian school of economics and a little Keynesian completion will be exposed the concepts of action, time and knowledge and the relationship of peace granted or not with money.  
  
  
Key-Word: Peace, Monetary expansion, Freedom   
  
  
INTRODUÇÃO  
  
Esse artigo trata de como o governo impede que haja muitos protestos contra suas medidas impopulares, antes mesmo que  elas sejam feitas, ou durante elas, além de, através de preceitos praxeologicos, mostrar as relações causais entre a oferta monetária, desemprego e inflação.  
Para isso, primeiro, diferenciaremos os conceitos expostos pela escola austríaca de economia e pelo pensamento mainstream, segundo, explicaremos os conceitos austríacos de ação, tempo e conhecimento e terceiro, demonstraremos através desses conceitos e de indicadores econômicos e geopolíticos o porquê a oferta monetária, planejada, pode conter  revoltas populares  
Além disso, ressaltaremos o conceito de "mau investimento" defendido por Hayek e trarei a relação desse conceito com a forma com que as leis são feitas no Brasil, com a inflação e oferta monetária e com a ação empresarial.  
Nesse artigo o único conceito não austríaco que usaremos em alguns casos será o de inflação, sendo que usarei também o conceito austríaco e a diferenciação dos dois conceitos ajudara a entender o conceito de mau investimento. 
Para defendermos nossa tese, usaremos series históricas da inflação de alguns países onde houveram grandes protestos, e ilustraremos o senário mundial com uma relação das taxas de cambio desses países frente a moedas estáveis.  
  
INFLAÇÃO COMO ENTENDEMOS E COMO OS AUSTRIACOS A ENTENDEM.  
  
Aprendemos nas universidades brasileiras que inflação resumidamente é nada mais que um aumento nos preços de bens e serviços da economia. A inflação pode ser causada por diversos  fatores, desde um furacão ou uma guerra no seu país, como uma falta de confiança na moeda.   
A inflação é usualmente reconhecida sob três formas principais.   
Inflação de demanda: ocorre quando há excesso de demanda, consumo, para bens e serviços em relação à oferta. Neste caso, a origem da inflação está diretamente relacionada ao comportamento do consumidor.   
Inflação de custo: ocorre quando há um aumento dos custos de produção - aumento de preço de matéria-prima, aumento dos salários – sem, consequentemente, aumento da produtividade da empresa. Neste caso a origem da inflação está diretamente relacionada à empresa. Existe, ainda, a chamada inflação psicológica, que tem origem no comportamento dos empresários (ofertantes) e no comportamento dos consumidores (demandantes). Os empresários, para se proteger de uma possível inflação futura, alteram os preços no presente, e os consumidores, prevendo novas altas, consomem além das atuais necessidades. Consomem para estocar, gerando, assim, o desequilíbrio da oferta e da procura. (GUTIERRES, 2004).  
  
A escola austríaca entende inflação apenas como sendo um aumento na oferta monetária. Isso pode ser causado pois acharam uma grande jazida de ouro, para quando a moeda é do tipo commodity, ou quando um banco central imprime moeda, no caso da moeda fiduciária.   
Mises explica esse conceito de forma resumida em seu livro, as seis lições:  "...se a quantidade de dinheiro aumenta, o poder de compra da unidade monetária diminui, e a quantidade de bens que pode ser adquirida com uma unidade desse dinheiro também se reduz."(MISES, 1881-1973).  
  
AÇÃO , TEMPO E CONHECIMENTO.  
  
Todo pensamento  gerado a partir de preceitos da escola austríaca tendem a partir de suas bases fundamentais, que dão o titulo a essa sessão. Esse conceitos são diferentes do entendimento comum e se ligam para explicar conceitos econômicos.   
Um agente qualquer da economia, um individuo, toma suas ações de forma praxeologica. Isso significa que o agente tende a fazer trocas que ele pensa sair de um estado menos favorecido para um mais favorecido. Se eu quero comprar um artigo de economia por exemplo, eu vou dar em troca o meu dinheiro, que julgo valer menos que o artigo, assim como quem escreveu o artigo julga que meu dinheiro tem mais valor que o próprio artigo, nós trocamos voluntariamente e ambos nos sentimos mais favorecidos. "Ação, para a Escola Austríaca, significa qualquer ato voluntário, qualquer escolha feita deliberadamente com vistas a se passar de um estado menos satisfatório para outro, considerado mais satisfatório no momento da escolha."(IORIO, 2011).  
Definido ação, podemos definir tempo. O tempo que a escola austríaca usa é diferente do tempo mainstream. O tempo mainstream é entendido como tempo newtoniano, pois ele segue  uma homogeneidade de fatores. O tempo austríaco é subjetivista. Isso implica que o tempo passa de acordo com as ações dos agentes. Os austríacos tomam essa noção de tempo, pois entendem que o tempo não é homogenio.Ele muda a cada ação de cada individuo na economia, enquanto o tempo newtoniano não muda, o que permite fazer previsões exatas, portanto os subjetivistas pensam ser algo impossível de ser feito.   
O segundo componente da tríade é a concepção dinâmica do tempo, ou tempo subjetivo, ou, ainda, tempo real, em que o tempo deixa de ser uma categoria estática que possa ser descrita por um simples eixo horizontal, para ser definido como um fluxo permanente de novas experiências, que não está no tempo, como na concepção estática ou newtoniana, mas que é o próprio o tempo.(IORIO, 2011).  
O conhecimento é essencial para  os agentes tomarem decisões. Todos os dias nosso conhecimento muda, e assim mudamos frequentemente de ideia. Assim a cada novo conhecimento, decidimos que ações tomar. Se o tempo muda a cada ação, o conhecimento também muda. "Como não é possível quantificar todo o nosso conhecimento, a Escola Austríaca não analisa os mercados como estados de equilíbrio, mas como processos de descoberta e articulação de conhecimentos"(IORIO, 2011).  
  
O MAU INVESTIMENTO E COMO O GOVERNO O USA.  
  
Os conceitos de inflação se chocam uma vez que a percepção dos agentes  muda constantemente. Quando um individuo tem uma percepção dos preços ele se planeja para otimizar seus ganhos. Assim que um governo se põe a frente do planejamento do  individuo com seu planejamento central(ele resolve que vai imprimir moeda, ou aumentar impostos ou qualquer outra coisa.), ele gera perturbações no conhecimento do individuo e faz com que o individuo faça  um planejamento incorreto.Isso é o mau investimento. Se o governo perturba intencionalmente o planejamento dos indivíduos, ele quebra a linha de raciocínio , fazendo por exemplo que alguém que pretendia investir uma viagem até Brasília para protestar não o possa mais.  
Segundo Jesús Huerta de Soto (2012): "Em suma, o mau investimento generalizado se manifesta na não utilização de muitos bens de capital, na não finalização de muitos processos de investimento iniciados, ou na utilização dos bens de capital produzidos de uma forma diferente da prevista originalmente." 
Supomos que o agente ganhou X em trabalho durante o ano para isso, e agora ele precisaria de X+Y, onde Y é o equivalente da inflação e aumento de impostos. Claro que o agente só percebe isso no fim do ano, depois de se planejar o ano inteiro, mas já não da mais tempo de viajar para tal. O agente precisa desse dinheiro de X para pagar Y. Isso claro porque o agente não estava desempregado, porque o empresário agora tem que pagar Y a mais e tem que limpar a folha de pagamentos.  
Keynes reconhece(KEYNES, John Maynard, 1971), citado em Hayek(HAYEK, Frederick A.,2011)  que: “não há meio mais sutil nem mais seguro de subverter a ordem social do que o aviltamento da moeda. Trata-se de um processo que mobiliza todas as forças ocultas da lei econômica a favor da destruição, e o faz de maneira tal que em um milhão de pessoas não há uma só que seja capaz de fazer um diagnóstico.”.              
  
ANÁLISE DE EPISÓDIOS HISTÓRICOS:  

 Para ilustrar, comparei a taxa cambial de todos os países citados em relação ao franco suíço, que considero uma moeda estável e com o dólar, que é a base de troca mundial. Posteriormente mostro as taxas de inflação históricas de cada país acompanhada  de um comentário do evento ocorrido no mesmo. No Gráfico 1 estão comparados os câmbios de: Peso argentino(ARS), o Dinar(LYD), o Real(BRL) e o dólar(USD), todos frente ao valor do franco.   
  
Gráfico 1  
Taxas de cambio frente ao franco suíço   de 2000 a 2015  
ImagemFonte: http://www.oanda.com/lang/pt/currency/historical-rates/  
  
O gráfico 2 mostra o aumento significativo da taxa de inflação no Brasil  depois dos protestos de julho de 2013. O protesto que ficou conhecido como "não é só pelos vinte centavos" foi um dos maiores protestos que já houve no Brasil, e foi inicialmente gerado por um aumento na tarifa de ónibus de vinte centavos.   
  
Gráfico 2  
Inflação no Brasil  de 2012 a 2015  
Imagem  
Fonte: http://pt.tradingeconomics.com/brazil/inflation-cpi  
  


  
Outro exemplo é a Alemanha no período entre guerras. Em 1920 entro em vigor o tratado de Versalhes, o que gerou uma incrível insatisfação nos alemães. O tratado foi assinado no dia 10 de janeiro de 1920. Notem que em 1919 a inflação não passava de 25%, mesmo com o pais abalado pela guerra, mas em 1920, a inflação atingiu 56% no primeiro mês. Em agosto de1920 a Alemanha leva o ultimato de Londres, que é um motivo além da insatisfação, mas isso acontece com mais vigor porque os alemães ficaram muito indignados com o fato deles terem de ceder território para  a Polônia. Em julho de 1922 a Alemanha pede moratória do pagamento das dívidas da guerra,   

Tabela 1  
Inflação da Alemanha - 1919 até 1924  
Imagem 
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-06182007000300002 (in VISCONTI, 1987).  
  
Esses são apenas dois exemplos dentre vários. Esse fenómeno é mais visível em países onde o governo comete muitos erros e perde a credibilidade, como o Brasil, Argentina, muitos países africanos etc. Existem outros motivos para o governo gerar inflação, por isso não é tão fácil achar exemplos claros do governo gerando inflação para coibir o povo. O governo pode gerar inflação para pagar dividas externas, para financiar projetos públicos ou estatizar empresas através da compra etc.   
  
Outro exemplo é a argentina em 2001 com sua onda de "panelaços", onde os argentinos saíram as ruas em dezembro para protestar. O protesto foi motivado pois o presidente ameaçou confiscar os depósitos bancários. Não foi necessário, já que ele aumentou o arrecadação através da inflação, além de aquietar os argentino.   
  
Gráfico 2  
Variação da inflação na Argentina Pico acompanha os protestos  
ImagemFonte: http://pt.tradingeconomics.com/argentina/inflation-cpi  
  
Podemos citar também citar um exemplo icónico. Trata-se da primavera árabe, mais especificamente na Líbia em fevereiro de 2012, onde a inflação dispara junto com o começo dos protestos para depor Muammar al-Gaddafi, o então ditador líbio. No gráfico 1, não é visível esse pico na inflação, pois o banco central da Líbia, assume uma politica de "taxa de cambio especial declarado". Segundo o Banco central da Líbia, 2015: "Durante as últimas décadas, a economia nacional tem testemunhado várias dificuldades económicas e financeiras que exigiam a adopção de um conjunto de políticas e medidas econômicas destinadas a corrigir os desequilíbrios que ocorreram. Uma dessas medidas é a política de taxa de câmbio." 
  
Gráfico 3  
Variação da inflação na Líbia Pico acompanha os protestos novamente  
Imagem  
Fonte: http://pt.tradingeconomics.com/libya/inflation-cpi  
  
SE O BANCO CENTRAL FOR INDEPENDENTE:  
  
Caso o banco central seja independente, isso elimina, em grande parte, o poder do executivo sobre as decisões económicas. Isso implica que se houver insatisfações do tipo puramente politica, o banco central vai se recusar a aumentar sua oferta monetária. O objetivo do banco central independente é quase exclusivamente a estabilidade dos preço, assim eles evitam ao máximo imprimir moeda se não segundo teorias económicas, e não interesses políticos.  
Os EUA por exemplo não tiveram alterações na inflação em decorrência dos protestos de occupy wall street  
  
Gráfico 4  
Inflação do dólar de 1999 a 2011 - 17 de setembro de 2011  
Imagem  
Fonte: http://www.indexmundi.com/g/g.aspx?v=71&c=us&l=pt  
  
  
CONSIDERAÇÕES FINAIS  
  
Concluo que , talvez propositalmente ou talvez não intencionalmente há uma paridade entre insatisfações populares e altas taxas de inflação quando o banco central não é independente. A questão é se os protestos são causados pela inflação ou se a inflação é causada pois há protestos? De qualquer forma os agentes estarão incumbidos de um mau investimento, o que fará com que a inflação suprima sua agitação contra o governo, talvez até o suficiente para acabar com um protesto.   
  
  
  
Referências   

Banco central da Líbia, 2015. Página consultada em 16 de junho de 2015,<http://cbl.gov.ly/eng/index.php?option=com_content&view=article&id=274&Itemid=179> (tradução nossa)   
COUTO, Joaquim Miguel; HACKL, Gilberto. Hjalmar Schacht e a economia alemã (1920-1950): Econ. soc. vol.16 no.3. Campinas Dec. 2007  
  
DE SOTO, Jesús Huerta; Moeda, Crédito Bancário e Ciclos Econômicos. São Paulo : Instituto Ludwig von Mises. Brasil, 2012. P. 358 

GUTIERRES, Ana Cláudia. Revista eletrónica de administraçãoEdição número 6, julho de 2004. Disponível em: <http://www.faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/TXdwuGboDpj8Fv0_2013-4-24-14-47-43.pdf> Acesso em: 30 de maio de 2015  
  
HAYEK, Friedrich A.Desemprego e política monetária. São Paulo : Instituto Ludwig von Mises. Brasil, 2011.  
  
IORIO, Ubiratan Jorge. Ação, tempo e conhecimento: A Escola Austríaca de economia. São Paulo : Instituto Ludwig von Mises. Brasil, 2011.  
  
KEYNES, John Maynard. The economic consequences of Feace, in The Collected Writings of John Maynard Keynes, vol. 2, londres, macmillan for the royal economic society, 1971, p. 144.  

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