Inferências sobre a expansão da oferta monetária e suas implicações sobre protestos.
Sr. D1
Ciências Econômicas
Universidade Federal da Cidade dos Sinos
Resumo
Este artigo trata das implicações econômicas
de variações propositais por parte do governo na oferta monetária e se
expansões monetárias podem oprimir movimentos de insatisfação contra o
estado e como isso é evitado se o banco central for independente. Segundo preceitos básicos da escola austríaca de economia e uma pequena complementação keynesiana será exposto os conceitos de ação, tempo e conhecimento e a relação da paz outorgada, ou não, com o uso da moeda.
Palavras-chave: Oferta monetária. Paz. Liberdade.
Abstract
This article discusses the economic implications of deliberate variations from the government in the money supply and monetary expansion can be overwhelming dissatisfaction movements against the state. According to basic principles of the Austrian school of economics and a little Keynesian completion will be exposed the concepts of action, time and knowledge and the relationship of peace granted or not with money.
Key-Word: Peace, Monetary expansion, Freedom
INTRODUÇÃO
Esse
artigo trata de como o governo impede que haja muitos protestos contra
suas medidas impopulares, antes mesmo que elas sejam feitas, ou durante elas, além de, através de preceitos praxeologicos, mostrar as relações causais entre a oferta monetária, desemprego e inflação.
Para isso, primeiro, diferenciaremos os conceitos expostos pela escola austríaca de economia e pelo pensamento mainstream, segundo, explicaremos os conceitos austríacos de ação, tempo e conhecimento e terceiro, demonstraremos através desses conceitos e de indicadores econômicos e geopolíticos o porquê a oferta monetária, planejada, pode conter revoltas populares.
Além disso, ressaltaremos o conceito de "mau investimento" defendido por Hayek
e trarei a relação desse conceito com a forma com que as leis são
feitas no Brasil, com a inflação e oferta monetária e com a ação
empresarial.
Nesse artigo o único conceito não austríaco que usaremos
em alguns casos será o de inflação, sendo que usarei também o conceito
austríaco e a diferenciação dos dois conceitos ajudara a entender o
conceito de mau investimento.
Para
defendermos nossa tese, usaremos series históricas da inflação de
alguns países onde houveram grandes protestos, e ilustraremos o senário
mundial com uma relação das taxas de cambio desses países frente a
moedas estáveis.
INFLAÇÃO COMO ENTENDEMOS E COMO OS AUSTRIACOS A ENTENDEM.
Aprendemos nas universidades brasileiras que inflação resumidamente é
nada mais que um aumento nos preços de bens e serviços da economia. A
inflação pode ser causada por diversos fatores, desde um furacão ou uma
guerra no seu país, como uma falta de confiança na moeda.
A inflação é usualmente reconhecida sob três formas principais.
Inflação de demanda: ocorre quando há excesso de demanda, consumo, para bens e serviços em relação à oferta. Neste caso, a origem da inflação está diretamente relacionada ao comportamento do consumidor.
Inflação de custo: ocorre quando há um aumento dos custos de produção - aumento de preço de matéria-prima, aumento dos salários – sem, consequentemente, aumento da produtividade da empresa. Neste caso a origem da inflação está diretamente relacionada à empresa. Existe, ainda, a chamada inflação psicológica, que tem origem no comportamento dos empresários (ofertantes) e no comportamento dos consumidores (demandantes). Os empresários, para se proteger de uma possível inflação futura, alteram os preços no presente, e os consumidores, prevendo novas altas, consomem além das atuais necessidades. Consomem para estocar, gerando, assim, o desequilíbrio da oferta e da procura. (GUTIERRES, 2004).
A escola austríaca entende inflação apenas como sendo um aumento na oferta monetária. Isso pode ser causado pois acharam uma grande jazida de ouro, para quando a moeda é do tipo commodity, ou quando um banco central imprime moeda, no caso da moeda fiduciária.
Mises explica esse conceito de forma resumida em seu livro, as seis lições: "...se a quantidade de dinheiro aumenta, o poder de compra da unidade monetária diminui, e a quantidade de bens que pode ser adquirida com uma unidade desse dinheiro também se reduz."(MISES, 1881-1973).
AÇÃO , TEMPO E CONHECIMENTO.
Todo
pensamento gerado a partir de preceitos da escola austríaca tendem a
partir de suas bases fundamentais, que dão o titulo a essa sessão. Esse
conceitos são diferentes do entendimento comum e se ligam para explicar
conceitos econômicos.
Um agente qualquer da economia, um individuo, toma suas ações de forma praxeologica.
Isso significa que o agente tende a fazer trocas que ele pensa sair de
um estado menos favorecido para um mais favorecido. Se eu quero comprar
um artigo de economia por exemplo, eu vou dar em troca o meu dinheiro,
que julgo valer menos que o artigo, assim como quem escreveu o artigo
julga que meu dinheiro tem mais valor que o próprio artigo, nós trocamos voluntariamente e ambos nos sentimos mais favorecidos. "Ação, para a Escola Austríaca, significa qualquer ato voluntário, qualquer escolha feita deliberadamente com vistas a se passar de um estado menos satisfatório para outro, considerado mais satisfatório no momento da escolha."(IORIO, 2011).
Definido ação, podemos definir tempo. O tempo que a escola austríaca usa é diferente do tempo mainstream. O tempo mainstream é entendido como
tempo newtoniano, pois ele segue uma homogeneidade de fatores. O tempo
austríaco é subjetivista. Isso implica que o tempo passa de acordo com
as ações dos agentes.
Os austríacos tomam essa noção de tempo, pois entendem que o tempo não é
homogenio.Ele muda a cada ação de cada individuo na economia, enquanto o
tempo newtoniano não muda, o que permite fazer previsões exatas, portanto os subjetivistas pensam ser algo impossível de ser feito.
O segundo componente da tríade é a concepção dinâmica do tempo, ou tempo subjetivo, ou, ainda, tempo real, em que o tempo deixa de ser uma categoria estática que possa ser descrita por um simples eixo horizontal, para ser definido como um fluxo permanente de novas experiências, que não está no tempo, como na concepção estática ou newtoniana, mas que é o próprio o tempo.(IORIO, 2011).
O conhecimento é essencial para os agentes tomarem decisões. Todos os dias nosso conhecimento muda, e assim mudamos frequentemente de ideia. Assim a cada novo conhecimento, decidimos que ações tomar. Se o tempo muda a cada ação, o conhecimento também muda. "Como não é possível quantificar todo o nosso conhecimento, a Escola Austríaca não analisa os mercados como estados de equilíbrio, mas como processos de descoberta e articulação de conhecimentos"(IORIO, 2011).
O MAU INVESTIMENTO E COMO O GOVERNO O USA.
Os conceitos de inflação se chocam uma vez que a percepção dos agentes muda constantemente. Quando um individuo tem uma percepção dos preços ele se planeja para otimizar seus ganhos. Assim que um governo se põe a frente do planejamento do individuo com seu planejamento central(ele resolve que vai imprimir moeda, ou aumentar impostos ou qualquer outra coisa.), ele gera perturbações no conhecimento do individuo e faz com que o individuo faça um planejamento incorreto.Isso é o mau investimento. Se o governo perturba intencionalmente o planejamento
dos indivíduos, ele quebra a linha de raciocínio , fazendo por exemplo
que alguém que pretendia investir uma viagem até Brasília para protestar
não o possa mais.
Segundo Jesús Huerta de Soto (2012): "Em suma, o mau investimento generalizado se manifesta na não utilização de muitos bens de capital, na não finalização de muitos processos de investimento iniciados, ou na utilização dos bens de capital produzidos de uma forma diferente da prevista originalmente."
Supomos que o agente ganhou X em trabalho durante o ano
para isso, e agora ele precisaria de X+Y, onde Y é o equivalente da
inflação e aumento de impostos. Claro que o agente só percebe isso no
fim do ano, depois de se planejar o ano inteiro,
mas já não da mais tempo de viajar para tal. O agente precisa desse
dinheiro de X para pagar Y. Isso claro porque o agente não estava
desempregado, porque o empresário agora tem que pagar Y a mais e tem que
limpar a folha de pagamentos.
Keynes reconhece(KEYNES, John Maynard, 1971), citado em Hayek(HAYEK, Frederick A.,2011) que: “não há meio mais sutil nem mais seguro de subverter a ordem social do que o aviltamento da moeda. Trata-se de um processo que mobiliza todas as forças ocultas da lei econômica a favor da destruição, e o faz de maneira tal que em um milhão de pessoas não há uma só que seja capaz de fazer um diagnóstico.”.
ANÁLISE DE EPISÓDIOS HISTÓRICOS:
Para
ilustrar, comparei a taxa cambial de todos os países citados em relação
ao franco suíço, que considero uma moeda estável e com o dólar, que é a
base de troca mundial.
Posteriormente mostro as taxas de inflação históricas de cada país
acompanhada de um comentário do evento ocorrido no mesmo. No Gráfico
1 estão comparados os câmbios de: Peso argentino(ARS), o Dinar(LYD), o
Real(BRL) e o dólar(USD), todos frente ao valor do franco.
Gráfico 1
Taxas de cambio frente ao franco suíço – de 2000 a 2015
Fonte: http://www.oanda.com/lang/pt/currency/historical-rates/
O gráfico 2 mostra o aumento significativo da taxa de inflação no Brasil depois dos protestos de julho de 2013. O protesto que ficou conhecido como "não é só pelos vinte centavos" foi um dos maiores protestos que já houve no Brasil, e foi inicialmente gerado por um aumento na tarifa de ónibus de vinte centavos.
Gráfico 2
Inflação no Brasil – de 2012 a 2015
Fonte: http://pt.tradingeconomics.com/brazil/inflation-cpi
Outro exemplo é a Alemanha no período entre guerras. Em 1920 entro em vigor o tratado de Versalhes, o que gerou uma incrível insatisfação nos alemães.
O tratado foi assinado no dia 10 de janeiro de 1920. Notem que em 1919 a
inflação não passava de 25%, mesmo com o pais abalado pela guerra, mas
em 1920, a inflação atingiu 56% no primeiro mês. Em agosto de1920 a Alemanha leva o ultimato de Londres, que é um motivo além da insatisfação,
mas isso acontece com mais vigor porque os alemães ficaram muito
indignados com o fato deles terem de ceder território para a Polônia. Em julho de 1922 a Alemanha pede moratória do pagamento das dívidas da guerra,
Tabela 1
Inflação da Alemanha - 1919 até 1924
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-06182007000300002 (in VISCONTI, 1987).
Esses
são apenas dois exemplos dentre vários. Esse fenómeno é mais visível em
países onde o governo comete muitos erros e perde a credibilidade, como
o Brasil, Argentina,
muitos países africanos etc. Existem outros motivos para o governo
gerar inflação, por isso não é tão fácil achar exemplos claros do
governo gerando inflação para coibir o povo. O governo pode gerar
inflação para pagar dividas externas, para financiar projetos públicos
ou estatizar empresas através da compra etc.
Outro exemplo é a argentina em 2001 com sua onda de "panelaços", onde os argentinos saíram as ruas em dezembro para protestar. O protesto foi motivado pois o presidente ameaçou confiscar os depósitos bancários. Não foi necessário, já que ele aumentou o arrecadação através da inflação, além de aquietar os argentino.
Gráfico 2
Variação da inflação na Argentina – Pico acompanha os protestos
Fonte: http://pt.tradingeconomics.com/argentina/inflation-cpi
Podemos
citar também citar um exemplo icónico. Trata-se da primavera árabe,
mais especificamente na Líbia em fevereiro de 2012, onde a inflação
dispara junto com o começo dos protestos para depor Muammar al-Gaddafi, o então ditador líbio. No gráfico 1, não é visível esse pico na inflação, pois o banco central da Líbia, assume uma politica de "taxa de cambio especial declarado". Segundo o Banco central da Líbia, 2015: "Durante as últimas décadas, a economia nacional tem testemunhado várias dificuldades económicas e financeiras que exigiam a adopção de um conjunto de políticas e medidas econômicas destinadas a corrigir os desequilíbrios que ocorreram. Uma dessas medidas é a política de taxa de câmbio."
Gráfico 3
Variação da inflação na Líbia – Pico acompanha os protestos novamente
Fonte: http://pt.tradingeconomics.com/libya/inflation-cpi
SE O BANCO CENTRAL FOR INDEPENDENTE:
Caso
o banco central seja independente, isso elimina, em grande parte, o
poder do executivo sobre as decisões económicas. Isso implica que se
houver insatisfações do tipo puramente politica, o banco central vai
se recusar a aumentar sua oferta monetária. O objetivo do banco central
independente é quase exclusivamente a estabilidade dos preço, assim
eles evitam ao máximo imprimir moeda se não segundo teorias económicas, e não interesses políticos.
Os EUA por exemplo não tiveram alterações na inflação em decorrência dos protestos de occupy wall street.
Gráfico 4
Inflação do dólar de 1999 a 2011 - 17 de setembro de 2011
Fonte: http://www.indexmundi.com/g/g.aspx?v=71&c=us&l=pt
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluo
que , talvez propositalmente ou talvez não intencionalmente há uma
paridade entre insatisfações populares e altas taxas de inflação quando o
banco central não é independente.
A questão é se os protestos são causados pela inflação ou se a inflação
é causada pois há protestos? De qualquer forma os agentes estarão
incumbidos de um mau investimento, o que fará com que a inflação suprima
sua agitação contra o governo, talvez até o suficiente para acabar com um protesto.
Referências
Banco central da Líbia, 2015. Página consultada em 16 de junho de 2015,<http://cbl.gov.ly/eng/index.php?option=com_content&view=article&id=274&Itemid=179> (tradução nossa)
COUTO, Joaquim Miguel; HACKL, Gilberto. Hjalmar Schacht e a economia alemã (1920-1950): Econ. soc. vol.16 no.3. Campinas Dec. 2007
DE SOTO, Jesús Huerta; Moeda, Crédito Bancário e Ciclos Econômicos. São Paulo : Instituto Ludwig von Mises. Brasil, 2012. P. 358
GUTIERRES, Ana Cláudia. Revista eletrónica de administração – Edição número 6, julho de 2004. Disponível em: <http://www.faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/TXdwuGboDpj8Fv0_2013-4-24-14-47-43.pdf> Acesso em: 30 de maio de 2015
HAYEK, Friedrich A.Desemprego e política monetária. São Paulo : Instituto Ludwig von Mises. Brasil, 2011.
IORIO, Ubiratan Jorge. Ação, tempo e conhecimento: A Escola Austríaca de economia. São Paulo : Instituto Ludwig von Mises. Brasil, 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário